quinta-feira, 4 de março de 2010

Prova de Moscatel de Setúbal

Foi no dia da abertura da Essência do Vinho 2010, que nos deslocámos ao Palácio da Bolsa, para a primeira prova Premium do evento: Moscatel de Setúbal.

Foi uma prova comentada apresentada pelo enólogo Domingos Soares Franco, da casa José Maria da Fonseca. A prova foi dedicada aos vinhos generosos desta emblemática casa, representante maior da região de Setúbal, que é demarcada desde 1908.

Começámos pelo Alambre 20 Anos. Este vinho é um blend de colheitas em que a mais nova tem 20 anos e a mais antiga 40 anos.
Côr ambar alaranjada, nariz intenso e complexo com aromas de frutos secos, tangerina...
Na boca é muito elegante com muito bom equilibrio entre açucar e acidez.
Uma maravilha.

Seguiram-se umas novidades que resultaram de experiências da equipa de enologia. A estes vinhos dão-lhes a marca: Domingos Soares Franco Colecção Privada, que passaremos a designar por DSF CP.
Estes dois vinhos fortificados são feitos com outros tipos de aguardente, coisa que ao vinho do porto não é permitido fazer.
O vinho DSF CP Armagnac 1999, de côr menos carregada que o primeiro, no nariz tinha figos secos e alcaçuz. Mais alcoolico na boca, mas muito bom.
O vinho DSF CP Cognac 1999, de côr igual ao anterior, sentia-se muito o alcool. O Cognac soprepunha-se aos aromas do moscatel. Não resultou tão bem como o Armagnac.

Passámos ao Moscatel Roxo, uma casta exclusiva da região de Setúbal, possivelmente originária da ilha da Madeira. É uma uva bastanta rara que chegou a correr riscos de extinção.
Provou-se primeiro uma experiencia de Domingos Soares Franco, uma fortificação de parte do vinho que constituiu o DSF Moscatel Roxo Rosé 2008.
Este Moscatel Roxo 2008, notou-se ainda muito novo, de côr turva, sem estabilização. Este vinho tinha um nariz muito intenso e frutado, num cocktail de frutas bastante prometedor, mas na boca não correspondia em nada ao nariz. Parecia ainda não estar bem fermentado, dando uma prova bastante estranha.
O vinho seguinte foi o DSF CP Roxo 1999, côr ambar, ligeiramente mais suave que a do Alambre, e bastante mais forte que a dos restantes 99. Nariz intenso, frutos secos, madeira, passas. Na boca tem muito boa acidez em harmonia com o doce, final persistente.

Seguiram-se dois licorosos da casta Bastardo. Este vinho já não se produz desde 1983, pois as únicas vinhas que existiam na margem esquerda do Tejo, entre a Caparica e o Lavradio, foram destruídas para construção. Salvaram-se umas varas que foram replantadas pela JMF em 2007, mas ainda vão demorar a dar-nos vinhos dignos da categoria do Bastardinho de Azeitão.
Provámos primeiro o Bastardinho 2009. Este vinho resulta de experiencias já destas novas vinhas, e não há intenção de o comercializar. Além da produção ser muito pequena, as vinhas ainda são muito novas e ainda se está em fase de experiências. Foi um vinho de extremos, de côr aloirada de tawny, aromas de caramelo, demasiado intenso e desequilibrado no nariz, foi comentado que parecia um macaco numa jaula, na boca era cremoso. Ainda não está pronto, mas promete muito.
Bastardinho de Azeitão 30 anos, de côr equivalente à do Alambre 20 Anos, nariz intenso e muito complexo, na boca é sedoso, muito ácido e doce em perfeito equilibrio. Maravilhoso.
Este vinho apesar de ser comercializado como um 30 anos, tem no lote vinhos entre 30 e 80 anos, o que dá uma média de idades bem superior.

Terminámos com o Trilogia, um blend feito com as três melhores colheitas do século XX, das que ainda existem em quantidade suficiente*: 1900, 1934 e 1965.
Côr topázio (mais carregada de todas), de complexidade infindável no nariz delicado, na boca é muito rico e elegante. Final interminável. Excelente.

*Foram mencionadas e destacadas as colheitas de 1947 e 1955, mas apenas já existem 50 litros de cada.

Frederico Santos e Carlos Amaro

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